terça-feira, 20 de dezembro de 2011
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
10 megapicsels
quinta-feira, 1 de dezembro de 2011
Tudo tem um nome
Tatu, sereia, borboleta
Coração, amor e arrepio
Tudo tem uma luz
Bom dia, semana, noite
Bar de esquina, chuva e espelho
Tudo tem um sabor
Azedo, doce, vazio,
Infência, mãe e abraço
Tudo tem um tempo
Parabéns, adeus, saudade
Fotografias e tumbas
sobre a minha cabeça ou sociabilidade
tenho ao meu lado um papel de pão do qual não fui eu quem comeu. não vô escreve nele; os pensamentos me bastam. Alias, não! Não bastam. é que me rabiscar neste papel de nada vai adiantar; ninguém lê e se lê... não se importa. que se foda os leitores. sim! sim, o meu pensamento me basta e não vô compartilhar ele com quem come o pão. Só, comigo.
tenho agora uma nova morada. não muito diferente das que já fui despejado. esta fica na rodovia com nome de corredor de F1, ayrton senna. Apesar do nome estranho, dizem que ele é do brasil e é um bom corredor; talvez ele já tenha passado pela minha cabeça, passam por ela a todo momento muitos carros correndo pra lá e pra cá. eu não acho bom: carros... gente... passam sem me ver, velozes, o que deixam pra trás é o barulho do escapamento e sua fumaça.
nessa morada tenho cama inclinada e escorregadia; no começo não foi nada fácil encontrar a posição ideal pro sonho. escorregava prum lado, pro outro. em algumas noites cheguei a ter sonhos repetidos em que eu estava diante dos engenheiros que projetaram o viaduto; e eles gordos e presos a roupas limpas diziam entre si ‘esta obra deve ter concreto inclinado e escorregadio em suas bases. Pois desta forma não haverá mais os desgraçados, imundos e magricelos que tanto deixam feias as nossas construções’.
aiaiai, esses meus sonhos... o que tenho alem dos sonhos é uma cama que foi difícil, mas que agora esta fácil de dormir; tive que me adaptar e acabei encontrando uma forma de descanso que não me deixa com dores na coluna ao despertar.
mas, o que mais gosto, não é a falta de dores e sim os meus momentos de sociabilidade – depois que escutei numa propaganda eleitoral esta palavra... sociabilidade... sociabilidade... gostei tanto que bebi três pingas no bar pra comemorar uma palavra nova posta no meu dicionário, sociabilidade... sociabilidade... é linda. e é ela que uso pra descrever a mim o meu momento de sociabilidade, talvez eu tenha pensado nisso tudo por culpa da sociabilidade, a sociabilidade que tenho com as minhas visitas. elas vem do rio, escuro, fedido e que pouco corre pra algum lugar. eu, debaixo da ponte, elas, no tietê. eu sempre achei interessante o dizer de que os cães são os melhores amigos dos homens, talvez seja mesmo; mas de uma coisa eu tenho certeza: as capivaras são as melhores observadoras dos homens. elas saem do seu nado só pra me verem. em mim, misturam-se varias sensações quando me olham, me observam e eu as vejo com seus movimentos leves se aproximando de mim sem piscar os olhos, sociabilidade... sociabilidade... depois de um longo tempo de nos comunicamos com interrogações silenciosas, elas vão se arrastando pro rio com uma tristeza lenta; nadam... nadam... e eu... fico com o barulho dos carros que passam com gente pra lá e pra cá, sobre a minha cabeça.
pirenco
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
salve, leitoras (es) do pura substância;
o 20 de novembro se foi, Zumbi morreu, e os poucos comentários que ficaram... foram: ''droga, nem pro dia dos pretos ser na semana; assim seria feriado''. Eu escutei estes comentários de algumas pessoas. Diante destas palavras me cabe socializar alguns pensamentos.
Primeiro: os dias, todos eles, estão nas mãos dos patrões, ou seja, nas mãos dos grandes capitalistas; desta forma os feriados são sempre bem vindos por quem trabalha, até mesmos os feriados católico-religiosos têm a simpatia dos ateus.
Segundo: declarações como essas, demonstram o quanto se faz necessário conhecermos a história dos oprimidos, a nossa. 20 de novembro não pode ser visto como apenas uma data de 'preto', esta leitura equivocada da história demonstra o quanto a classe dominante tem interferido nos nossos pensamentos; é desta forma que os seu interesses de dominação ideológica ficam explícitos. Porém, se não conhecermos, nem que seja minimamente, a história dos oprimidos, dos que não têm voz, não seremos capazes de reconhecermos nossas tradições de lutas diante dum simples espelho. E, presos a um eterno reflexo, continuaremos como papagaios colonizados/explorados/estuprados/oprimidos..., continuaremos a ouvir comentários que a classe dominante plantou a séculos em nossas mentes.
Primeiro o ferro marca
a violência nas costas
Depois o ferro alisa
a vergonha nos cabelos
Na verdade o que se precisa
é jogar o ferro fora
é quebrar todos os elos
dessa corrente de desesperos.
abaixo, socializo uns videos que nos faz pensar-nos:
Filme: ''panteras negras''
http://www.youtube.com/watch?v=-xDjqttKH4Y
Malcolm x ''por qualquer meio necessário''
parte I
http://www.youtube.com/watch?v=2x8KgPf8Pq0&feature=related
parte II
http://www.youtube.com/watch?v=NLpfZc79na8&feature=related
Bobby S
http://www.youtube.com/watch?v=ncwYXfrMMqM&feature=player_embedded
quarta-feira, 16 de novembro de 2011
no meio da ladeira ou + um dia de peso
''cansei!!! cansei!!! maldita ladeira. se no meio desta ladeira eu tivesse um cigarro ou goles de pinga não pensaria no carro de papel, na minha cor e em alguns poucos ferros que trago nos ombros. me parece que a roda tá com problemas, quebrada; ela gira, gira... e eu tô sempre no mesmo lugar. se eu tivesse um cigarro ou goles de pinga não me importaria com a roda... Biiiiiiiiii!!! por que buzina? - seu filho da puta. há quantos quilômetros você passa por mim? 30? 40? 50? há quantos anos, há quantas gerações você passa por nós e só buzina sua raiva, quantos dezembros você rezou pro menino jesus? hen? hen? seu filho da puta!!! o que carrega no porta-malas? sua viagem de feriado ou carne prum churrasco? eu tô cansado!!! meu mundo tem problemas. não tenho estepe, nem mundo auxiliar; só ladeira. filho da puta... preciso bebê. preciso bebê. fumá. 'me vê um solto'. desgraçados!!! não gostam das minhas moedas ou dos trapos sujos? desgraçados, não vendem solto. vamos lá, filho de zumbi. no três... um, dois, três... hunnn!!! preciso chegá ao ferro velho pra descarregá mais um dia de peso''.
pirenco
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
um voô.
sábado, 29 de outubro de 2011
Burroughs & Zé.
Nenhum dos dois leram Manifestos, além dos Manifestos poéticos. Para que assim não entrassem em contradição consigo mesmo todas as vezes que fosse escrever suas prosas, contos e poemas. Assim foram mais livres e assim escreveram sobre gatos e borboletas e coqueteis explosivos.
Desenquadraram suas letras, foram longe, adptaram conexões surreais ao seus modos. Se encontram muito mais do que os críticos dizem se encontrar em suas trajetórias. Zé toca Bob Dylan, mas não vejo graça nas versões forçadas deste para com as músicas daquele. Dylan é mais Kerouac -ele mesmo disse- e Zé é mais Burroughs -eu que estou dizendo.
Por fim, entre as diferenças sobra muita coisa boa pra se ler e ouvir. Longe de algo empacotado,o trabalho desses dois especialistas em domesticar animais serve de referência pra um monte de guri que anda escrevendo e cantando por aí.
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
SEM-TERRA
Pedra Branca, Quixadá,
Veríssimo, Choro Limão.
Neles viveu meu avô,
Pobre e bom cidadão;
Viveu sempre trabalhando,
Mesmo cansado, lutando
Pra enriquecer o patrão.
Fumou cigarro de palha,
Comeu cuscuz com feijão.
Pra sustentar a família
Lascou a palma da mão;
Venceu vento, chuvas, secas,
Arrancou toco, fez cercas
No triste a árido sertão.
Dedicou as forças a terra,
Imensa terra limpou.
Quando ela ficou seca,
Ele, contente, aguou.
Teve filho com Maria:
Amaram-se até que um dia
O destino os separou.
Ele, desde os sete anos,
Terra viveu a cavar,
Plantou riqueza na terra,
Terra pra ele era lar
E, já cansado e velhinho,
Morreu ali quase sozinho,
Sem terra pra lhe enterrar.
sexta-feira, 14 de outubro de 2011
entre a inflação e a radionovela
sexta-feira, 16 de setembro de 2011
Independência ?
No sétimo dia de setembro Deus, erguendo sua espada de fogo
declarou:
-Independência ou Morte. Fiat Brasilis - faça-se o Brasil.
Estava criado o Mundo Brasil. Viu Deus que era bom, e foi descansar.
Mas o negro na senzala encafifado com o fato, resolveu indagar:
-O que é independência?
Deus, sabichão, já com jeitinho brasileiro, respondeu:
Não se preocupe em saber. Depois a gente dá um jeitinho.
-Mas o que é independência? - insistiu o afro-descendente.
-Pode ser, por exemplo, tema para um samba-enredo - respondeu o bom
Deus, inventando o Carnaval. - Que tal a idéia? Não está mal.
-Mas eu preciso entender. O que é independência?
-Isso ainda não está à altura do seu entendimento - retrucou Deus,
já meio irritado, mandando o cafuzo esquecer o assunto confuso. - Deixe
isso de lado. Não é assunto para negro.
-Se não é para negro é para tupí - vociferou o índio, saindo da
mata vazia.
E Deus, com seu cajado, no cavalo de chefe de Estado, esbravejou:
-Isso não é coisa para índio. Isso é para o Primeiro Mundo,
civilizado.
-Se não é para índio, é para mulato - cantou o mulato, estupefato.
E Deus, no seu trono divino falou mais alto:
-Isso não é coisa para mulato. Isso é assunto complicado.
Aí vieram o operário, a dona de casa, o visionário, o artista com
sua arte Veio gente de toda parte, o moleque de rua, o caipira, o
pau-de-arara. Todos gritaram ao mesmo tempo, perdendo a paciência:.
-O que é independência?
-Independência, é, por assim, como diria, na verdadeira concepção
da palavra, assim, assim... Entenderam meus filhos? é...
E, saindo dos trilhos, conclui:
-Vão à merda. Isso não é coisa para vocês.
Encurralado, enraivecido, desesperado, emputecido; Deus então tomou
uma decisão, fazer um arranjo em sua invenção. Acabar com as dúvidas
eliminando a indagação.
Silêncio celestial (ou sepulcral?). Mas quem prestar a atenção,
atrás dos muros, ouve sussurros:
-Independência? Independência?
este texto foi eladorado em conjunto pelos poetas Daniel Neves e Castelo Hanssen para adaptação teatral em ''comemoração'' ao mês da independência nacional.
quarta-feira, 14 de setembro de 2011
singela coxinha
- me vê uma coxinha
- algo para beber? - perguntou de maneira espontânea o dono do boteco.
- não. só tenho pra coxinha - respondeu com a voz seca e autoritária.
Sem mais perguntas, o dono do bar se vira em direção à grande gaveta onde esconde as coxinhas dos bichos indesejados, pega-a, caminha rumo à bacia de óleo borbulhante. O trabalho com o óleo, a coxinha, a vida, impedem-no de notar que entraram três crianças no boteco. De costas, não pode ver três rostos sujos das brincadeiras de pedir. Paradas, tímidas, dentro do bar, contemplam os objetos e planejam a abordagem.
- aqui... a coxinha está pronta. - neste instante o dono projeta os olhos talvez interrogativos sob as crianças.
- tio... tamu cum fomi. - declara a menina, a menor entre as três.
O dono do bar pensa por alguns milésimos de segundos em algo que somente ele poderia descrever...
- tá bom, tá bom... vô fritá mais trêis. - essas palavras saíram de sua garganta misturadas as possíveis causas da fome.
Ao lado da sujeira infantil, o primeiro freguês - o da coxinha - morde com raiva seu alimento, põe força nas mandíbulas, caniços, tritura o frango, coxinha.
- um dia eu acabo com isso. Deixa suas duas moedas sobre o balcão e abandona o boteco.
pirenco
terça-feira, 13 de setembro de 2011
quinta-feira, 8 de setembro de 2011
Em setembro...
terça-feira, 30 de agosto de 2011
pirenco
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
Os objetos estão na sua cabeça.
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
Amado, carrossel de menino, Lampião
azul... verde... amarelo... roxo... e sangue.
luz refletida pelo céu da noite
vinda de sobre o cavalinho nunca nauseado,
olhos abertos
revólver da imaginação engatilhado
vermelho, vermelho, vermelho
escorre
dos olhos a alegria de ser Lampião...
criança...
que não acabe a brincadeira.
inspirado no trecho as luzes do carrossel da obra ''capitães da areia'' de Jorge Amado.
pirenco
Quando os trabalhadores perderem a paciência
As pessoas comerão três vezes ao dia
E passearão de mãos dadas ao entardecer
A vida será livre e não a concorrência
Quando os trabalhadores perderem a paciência
Certas pessoas perderão seus cargos e empregos
O trabalho deixará de ser um meio de vida
As pessoas poderão fazer coisas de maior pertinência
Quando os trabalhadores perderem a paciência
O mundo não terá fronteiras
Nem estados, nem militares para proteger estados
Nem estados para proteger militares prepotências
Quando os trabalhadores perderem a paciência
A pele será carícia e o corpo delícia
E os namorados farão amor não mercantil
Enquanto é a fome que vai virar indecência
Quando os trabalhadores perderem a paciência
Quando os trabalhadores perderem a paciência
Não terá governo nem direito sem justiça
Nem juizes, nem doutores em sapiência
Nem padres, nem excelências
Uma fruta será fruta, sem valor e sem troca
Sem que o humano se oculte na aparência
A necessidade e o desejo serão o termo de equivalência
Quando os trabalhadores perderem a paciência
Quando os trabalhadores perderem a paciência
Depois de dez anos sem uso, por pura obscelescência
A filósofa-faxineira passando pelo palácio dirá:
“declaro vaga a presidência”!
(Mauro Iasi)
sexta-feira, 29 de julho de 2011
Jesus Trotsky, mais do que bom
O pai era marceneiro dos bons, com curso no Senai. Trabalhara sempre em uma boa empresa e ganhava um salário razoável. Era sindicalizado, mas nunca quis ocupar cargo de direção. A mãe era de prendas domésticas, das mais prendadas. Participava de Pastoral e fazia excelente trabalho social, em favor dos mais necessitados, servindo a Deus e aos homens.
O inocente foi crescendo e recebendo duas orientações diferentes, ambas, contudo, levando-o a caminhos parecidos. A mãe ensinou a ter amor e caridade, como ensinou seu xará, Jesus Cristo. O pai fê-lo entender que os homens e mulheres do mundo inteiro devem viver em paz e fraternidade. Ambos o ensinaram a repartir o pão. Ambos o ensinaram que os homens são todos irmãos, por Deus ou pela dialética.
Aprendeu e foi um bom menino e um homem de bem. Foi ainda mais longe. Jamais quis receber alguma coisa pelo bem que praticava. Acreditava que o bem se satisfaz por si próprio. Se fizesse o bem para ganhar o céu, se andasse direito para ser promovido no emprego, se espalhasse boas palavras para conduzir multidões, estaria trabalhando em causa própria.
O bem praticado em troca de alguma coisa não é bem. Fiel a esse pensamento, nunca teve uma religião, e nunca aderiu a qualquer ideologia ou partido político.
Assim viveu, como um santo ou um filósofo. Nunca teve nada, mas encheu o mundo de idéias e de filhos. As idéias, como todo pensamento generoso, foram esquecidas ou deturpadas. Os filhos cresceram e se multiplicaram em netos. Nenhum puxou ao pai ou ao avô. Todos foram criaturas normais e mais ou menos felizes, mais ou menos infelizes, contribuindo para que o mundo continuasse a girar na mesma órbita.
Como tudo que é mortal, Jesus Trotsky morreu, velho, pobre, mas realizado. Foi para o Inferno. Deus achou que tanto desapego era petulância.
texto escrito por Castelo Hanssen; retirado do blog:
http://castelohanssen.blogspot.com/
quinta-feira, 21 de julho de 2011
segunda-feira, 18 de julho de 2011
terça-feira, 12 de julho de 2011
Às 107 cores de Pablo Neruda
(...)não sou mais que um poeta: amo todos vós,
ando errante pelo mundo que amo:
em minha pátria encarceram mineiros
e os soldados mandam nos juízes.
Porém eu amo até as raízes
de meu pequeno país frio.
Se tivesse que morrer mil vezes
lá quero morrer:
se tivesse que nascer mil vezes
lá quero nascer,
perto da araucária selvagem,
do vendaval do vento sul,
dos sinos recém-comprados.
Que ninguém pense em mim.
PENSEMOS NA TERRA TODA,
BATENDO COM AMOR NA MESA.
Não quero que volte o sangue
a empapar o pão, os feijões,
a música: QUERO QUE VENHA
COMIGO O MINEIRO, A MENINA,
O ADVOGADO, O MARINHEIRO,
O FABRICANTE DE BONECAS,
QUE ENTREMOS NO CINEMA E SAIAMOS
PARA BEBER O VINHO MAIS RUBRO.
NÃO VENHO PARA RESOLVER NADA.
VIM AQUI PARA CANTAR
E PARA QUE CANTES COMIGO.
(fragmento do poema ''Que acorde o lenhador'')
quarta-feira, 6 de julho de 2011
Sem expressão, presa à dispensa, inala a poeira dos seus restos que o mundo finge não ter criado. A porta... trancada! Imagina janelas... porém, as chaves estão sob a posse dos maus tratos do carcereiro.
Por trás das vassouras existe vida que sempre esteve em suspiros, e vê-la na escuridão da dor é sentir seu coração que sangra lhe batendo preso à harmonia do corpo.
A dor na ausência do movimento vivo do corpo bate dia a dia e a musica ritmada pelos seios nutre a melodia das flores que respiram no escuro da dor.
pirenco
sábado, 2 de julho de 2011
Escrevo de um cárcere
Sempre fui um homem dedicado, exercia as funções que me eram dadas com o maior empenho possível. Quando criança, não via a hora de chegar da escola e fazer o dever de casa; quando terminava era a sensação mais prazerosa que podia sentir. Talvez o inocente leitor não sinta prazer em realizar uma tarefa destinada, está aí leitor, a nossa diferença. Creio que está ansioso para saber o motivo que me trouxe a este lugar, pequeno e agora frio. Mas digo-lhe, acalme-se, logo chegarei ao ponto que sua alma deseja.
Acalme-se. Acalme-se, deixe que meu corpo esfrie mais ao contar-lhe sobre minha mocidade. Quando tinha por volta dos meus quinze anos, as brincadeiras para mim eram de verdadeiro deleite – aquelas que eu brincava comigo mesmo. Nunca tive amigos, criar personagens imaginários e depois desejar matá-los, criando formas para isso, era a minha mais pura diversão. Meus pais... Prefiro não escrever sobre eles; Talvez o inocente leitor deva estar se perguntando: Por que não fala sobre os pais? Digo-lhe que sou mais forte, para encarar o fim, se estiver sozinho.
Quando atingi a idade para trabalhar, fui ao encontro da profissão que se enquadraria com a minha personalidade. Foi perfeito, amor à primeira vista, um grande e equipado matadouro de animais. A euforia era tanta que não me importei com o quanto iriam me pagar; o que eu queria era o mais rápido possível trabalhar. Foi assim, inocente leitor, que encontrei a profissão perfeita e logo comecei a amá-la. Na minha vida era morte e mais morte; todos os dias dezenas de animais passavam pelas minhas mãos. Eu era o mais dedicado profissional do matadouro. Até mesmo nos dias de folga não conseguia ficar sem matar, por isso trabalhava.
Depois de vinte anos de profissão... Fui dispensado das atividades. “Malditos sejam os vegetarianos” foi o que o meu patrão alegou justificando a minha dispensa. Inocente leitor, você não é vegetariano, não é?! Se for... interrompo aqui minha narrativa, pois você me trouxe a esta cela, agora quente. Quente de raiva.
Não! Creio que você não é a causa do meu fim. Continuarei.
Quando sai pela última vez do lugar que representava o céu vermelho mais lindo, estava – como agora – tomado de raiva, queria mostrar o meu trabalho, mostrar o quanto era bom na arte de matar; e para isso fui à casa do meu ex-patrão lhe mostrar o quanto a profissão me ensinou.
Toquei a campainha...duas ou três vezes, abriram a porta, era uma senhora de muita idade, talvez fosse sua mãe e logo atrás uma criança curiosa que a perguntava “Quem é vovó?” Identifiquei-me como funcionário e amigo do dono do matadouro. Pediram-me para entrar e aguardar a sua chegada. Entrei recusando o chá oferecido, sentei-me sentindo forte vontade de matá-las – queria mostrar ao ex-patrão, quando chegasse, o quanto aprendi. Fui rápido e eficiente como de costume. Ao sair deparei-me com o ex-patrão, ou pai, ou filho, como queira inocente leitor; e ao me ver com as mãos vermelhas saindo de sua casa, agarrou-se a mim pondo-me imobilizado no chão, chamou os vizinhos que logo notaram o que acontecia e... Ó leitor, este fato me deixa com raiva a ponto de interrompe as palavras.
Pronto! Estou aqui... Preso e com raiva, aguardando o meu fim.
pirenco
sexta-feira, 10 de junho de 2011
João, o menino que não sabia escarrar.
quarta-feira, 1 de junho de 2011
Sarney e o direito à memória
domingo, 29 de maio de 2011
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Prefácio
Depois é que veio a harpa e a fêmea em pé.
Insetos errados de cor caíam no mar.
A voz se estendeu na direção da boca.
Caranguejos apertavam mangues.
Vendo ue havia na terra
dependimentos de mais
e tarefas muitas -
os homens começaram a roer as unhas.
Ficou certo pois não
que as moscas iriam iluminar
o silêncio das coisas anônimas.
Porém, vendo o Homem
que as moscas não davam conta de iluminar o
silêncio das coisas anônimas -
passaram essa tarefa para os poetas.
Manoel de Barros.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
sexta-feira, 6 de maio de 2011
terça-feira, 19 de abril de 2011
Chorar
pirenco
lembrança
pirenco
segunda-feira, 18 de abril de 2011
O abatedouro de pombos - V
Que tragédia, grita o homem!
-Todos morrem, menos as putas da cidade vizinha-
Que tragédia, grita a mulher!
-Que noite quente!-
Grita a puta da cidade vizinha.
sexta-feira, 15 de abril de 2011
alegria nos dentes,
raiva vermelha nos olhos,
veias.
Mergulho na insanidade do momento
Afogado... não respira
Barulhos repetidos, aplausos,
o carteiro que não é poeta,
Nas mãos suspiro do mês
derrama-se sobre a mascara,
''a conta''.
pirenco
segunda-feira, 11 de abril de 2011
Entre ratos e poetas.
domingo, 3 de abril de 2011
quarta-feira, 23 de março de 2011
Bolacha de sal e bolacha doce.
ela come bolacha doce,
um bancário ela queria que eu fosse,
mas tenho vocação mesmo é pra vida agridoce.
Orgulho-me de não cair em desgraça,
e de não andar por aí vestindo máscaras.
Mas, o meu amor mesmo é por ela,
que come bolacha doce.
E queria que nosso querer fosse assim,
feito sal e doce.
Nem me importa o que ela queria que eu fosse,
bancário, mascarado, desgraçado, que fosse!
Desde que eu esteja com ela,
que come bolacha doce.
29/01/2010
sexta-feira, 11 de março de 2011
Meu calçado é popular.
terça-feira, 8 de março de 2011
MULHER COM P
Para Paulas Priscilas Patrícias
Passado
Patrimônio particular papai
presente
Propriedade privada
parceiros passando para patrão
Pátria patriarcal
Pelourinho perpétuo
Pancadas
Panelas padrões
preconceitos
Pelas paredes prédios poses peitos posições patéticas
Pelas pontes pivetes prosseguem pedindo pão
Pelas pistas patricinhas prosseguem pedindo primeira pagina playboy
Pura palhaçada
Possuímos pensamentos próprios
Personalidade
projetos
perguntamos
Pra que perpetuar preconceito?
Padrões perversos?
Posso parecer polemica porém
Privatizaram pessoas
Prostituíram pensamentos
Perua puta patroa pantera potranca passatempo
Palavras pesadas
Patrocinadas pelo passado perverso
Porem prosseguimos protestando
Pedros, Paulos, Pablos
Podem participar
Prosseguimos protestando
Pelo porto alegre pelo pirajussara
Paz para pátria
Punição para poderosos
Pão para pequenos
Pétalas
Poder popular
Prosseguimos pedindo
Principalmente poesia para periferia.
poema tirado do documentário ''panorama - arte na periferia''
8 de março: dia das mulheres proletárias, das mulheres imilla, das mães das quebradas. Um grande salve às mulheres que nos puseram na luta contra as injustiças do sistema capitalista.
quarta-feira, 2 de março de 2011
Depois do Bom Fim.
Tenho minhas indagações de que Sclyar só morreu por essas horas, depois de adentrar pra academia brasileira de Letras, aquele antro acadêmico improdutivo. Se não tivesse adentrado pra'quela casa de 'célebres' contribuintes da literatura nacional, carregaria seu legado, tijolo a tijolo, por mais uns anos.
Mas...
Prefiro ficar com as minhas recordações do livro A GUERRA DO BOM FIM pelo qual, Sclyar percorre sua infância nas ruas do Bom Fim, bairro da distante Porto Alegre. Neste romance, o autor coloca, com maestria, a ficção num ponto crucial da realidade vivida por um garoto judeu e por uma comunidade totalmente diferente-indiferente do seus costumes e hábitos. Com pitadas de humor, ele recorre ao imaginário bairristico para expressar com serenidade o posicionamento social de seu povo naquele circulo social, sempre dentro de uma ação, de um corre-corre, de lembranças.
Moacyr Sclyar contribuiu de forma gaúcha para com a literatura nossa, para com a forma realismo-ficção de expressar seus sentimentos, e necessidades de expor e confirmar seus costumes dentro de uma escrita oficial. Depois do Bom Fim, o que nos sobrou foram as formas, a ousadia, a gurizada correndo na rua... sempre.
segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011
O abatedouro de pombos - XV
sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011
terça-feira, 22 de fevereiro de 2011
85 Letras e um Disparo
-Fernando, o ônibus tá sendo assaltado...
-Quê?!!!
-Fala mais alto!!!
-Tão assaltando o ôni...
Puf.
-Alô!
Tu, tu, tu...
(Sacolinha)
sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011
quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011
Um pedido de folião.
Depois desse pedido, um silêncio invadiu o quarto do barraco, e a mãe como se saísse dum parto exclamou alto:
-Vá, mais antes de sair lave os prato!
quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011
Fevereiro do desgosto.
bruto, desgostoso.
A vida não anda valendo
nem um real.
A faca foi criada
pra cortar pescoço.
A vida vale
menos que um osso.
E não é por falta de amor,
é por amor ao desgosto,
que o osso anda valendo
mais que um cidadão da capital.
Mas tudo isso acontece
por causa do calendário nacional.
É que nesse fevereiro
do desgosto, não vai ter carnaval.
quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011
Cabral, o foragido.
domingo, 23 de janeiro de 2011
Fernando Pessoa - plural como o universo.

Está nas últimas a exposição Fernando Pessoa- plural como o universo no Museu da Língua Portuguesa em São Paulo. Lá onde os objetos são nossos dialetos, onde nosso entrosamento linguístico ganha uma abordagem plural e independente e onde a poesia está solta.
Os escritos do poeta máximo de terras lusitanas, ganharam uma nova roupagem, como projeções, salas de espelhos, vida. Em plural como o universo, os heterônimos de Pessoa ficam mais claros, mais pop. Alberto Caeiro ficaria bestificado.
A exposição transmite com maestria a forma envolvente com a qual Pessoa desdenhava sobre suas obras. A liberdade de ir e vir, de começar pelo fim, e de terminar pelo começo me chama a atenção em qualquer que seja a exposição. Poético.


No fim, se é que eu posso falar no fim, uma vez não é suficiênte pra você digerir a empreitada. Você terá que ir pelo menos umas três, e não se arrependerás. Uma vez é só pra dizer que foi. Aos sábados é gratuito. Separe os próximos três e boa exposição!
Texto/Fotos: Danilo Cruz Manga.
sexta-feira, 21 de janeiro de 2011
Cantinho bagunçado
Esse cantinho que carrego é só meu, e nenhuma teoria é capaz de ordená-lo. Pois nele vivo. E vivo desconfiado de que o cantinho bagunçado em minha amada possa ser o mesmo que o meu.
pirenco
O vento do cais.
sexta-feira, 14 de janeiro de 2011
Um mês.
Um brinde ao nosso amor...
Pois logo chego,
No fim do mês.
Pra ser exato,
chego no dia vinte e três.
Vou feliz.
Sem lágrimas, espero.
Mas, se elas vierem,
que caiam apenas três.
Três gotas por vez.
terça-feira, 11 de janeiro de 2011
São Paulo -Peru, quem vai?

Aos que sonham em sair viajando pela América-Latina, a empresa de ônibus Ormeño está disponibilizando pela bagatela de R$ 435 uma viagem de 5 dias até Lima, Peru. A Ormeño é a responsável pela locomoção continental, e disponibiliza também uma segunda opção até Cusco por R$ 380.
Essa viagem ao centro da America-Latina escondida do Brasil é necessária. Pelo menos pra mim. Pra entender o quanto estamos distantes dos nossos vizinhos e porque estamos tão distantes, consequentemente. Além da viagem, é claro. Essa dica é de um curioso. Vale apena conversar com pessoas que já fizeram esse caminho, ou algum parecido por outra rota antes de se jogar na estrada.

Essa notícias saiu recentemente aqui e por ai. Por hora, tem mais pessoas lapidando a informação e o que vai ter de gente em busca do Pacífico, não vai ser brincadeira. Arruma a mala aê!
Imagens: Portal ig.
Falsidade inabalável.
sexta-feira, 7 de janeiro de 2011
quinta-feira, 6 de janeiro de 2011
O indigente.
soprando do carro.
Subindo o asfalto,
voando alto.
Flutuando o planalto,
Sem tato,
como um morto indigente descalço,
que volta depois pra mim,
como se fosse um parto.
Subindo o asfalto,
sem tato,
vem de carro,
na padaria do lado.
Esse calor,
essa massa de ar,
quente.
É como um morto indigente descalço,
que volta depois pra mim,
como se fosse um parto.