quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

647488


madalena disse que seu pai foi expulso da corporação.
e que ele tinha 3 pistolas frias para as ações noturnas
na periferia da cidade. madalena, chora.
"é complicado, temos que assumir ordens, tem os direitos
humanos" era o que estava na ficha do depoimento do pai
de madalena, quando caiu na corregedoria depois de
descoberto o grupo de extermínio.
ontem, morreram mais 20. tudo via arma fria. ordens vinda
do centro. não é pra deixar um vivo. se o bar tiver aberto
descarrega. não é alarme, é sinal vivo de que vem mais uma
execução em massa. uma espécie de continuação da demissão
em massa das metalúrgicas.
madalena se mata com a arma fria do pai. mais uma pra
estatística.

terça-feira, 7 de agosto de 2012

palavras de viagem

nuvens desenhadas no céu
árvores verdes de frestas azuis e brancas
formam um quadro penere de paisagem
e
nos olhos de um viajante...
as lembranças que ficaram.



pirenco

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Quando os trabalhadores perderem a paciência,

Quando os trabalhadores perderem a paciência,


As pessoas comerão três vezes ao dia
E passearão de mãos dadas ao entardecer
A vida será livre e não a concorrência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

Certas pessoas perderão seus cargos e empregos
O trabalho deixará de ser um meio de vida
As pessoas poderão fazer coisas de maior pertinência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

O mundo não terá fronteiras
Nem estados, nem militares para proteger estados
Nem estados para proteger militares prepotências
Quando os trabalhadores perderem a paciência

A pele será carícia e o corpo delícia
E os namorados farão amor não mercantil
Enquanto é a fome que vai virar indecência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

Quando os trabalhadores perderem a paciência
Não terá governo nem direito sem justiça
Nem juizes, nem doutores em sapiência
Nem padres, nem excelências

Uma fruta será fruta, sem valor e sem troca
Sem que o humano se oculte na aparência
A necessidade e o desejo serão o termo de equivalência
Quando os trabalhadores perderem a paciência

Quando os trabalhadores perderem a paciência
Depois de dez anos sem uso, por pura obsolescência
A filósofa-faxineira passando pelo palácio dirá:
“declaro vaga a presidência”!

Mauro Iasi.

terça-feira, 3 de abril de 2012

a função poética


A função poética distribuída por uma régua/
De metros e metros de solidão e desespero /
Uma equação de um dia inteiro/ de uma função poética
De amor/ por inteiro/
Tridimensionais/  função poética/
 Amor/ a função poética /vista de várias/
cor.

quinta-feira, 8 de março de 2012

aos que virão depois...
realmente vivo em tempos sombrios.
uma linguagem sem malicia é tola...
uma testa sem rugas implica indiferença.
aquele que ri apenas ainda não recebeu...
a terrível notícia.

Eu queria ser um sábio. Livros antigos dizem o que é sabedoria.
manter-se longe dos problemas do mundo...
e este tempo tão curto deixar passar sem
medo.
seguir seu caminho sem violência...
pagar o mal com o bem...
não satisfazer os próprios desejos, mas
esquecê-los. Isso é sabedoria.
mas não consigo agir assim. realmente...
vivo em tempos sombrios.


B. Brecht

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Certo vôo

  Cada
 pássaro
   sabe
  a rota
do retorno.

  Cada
 pássaro
   sabe
  a rota
  de si.

  Cada
 pássaro,
 na rota,
 sabe-se
 pássaro.


Damário da Cruz 

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

semente em terras férteis

Quando criança fui a um enterro, não relato minha idade por falta de lembrança, sei que era jovem, uma semente em terras férteis. Lembro-me, sobretudo, do aroma dum corpo em putrefação. “assassinato. tiros” disse uma mulher ao se aproximar, eu não sabia ao certo o que isso significava; com os olhos em lagrimas e as palavras engasgadas ela continuou comentando o ocorrido: “tiros da polícia. estrada de nazaré. encontraram agora a pouco. fazia tempo que sumiu”. Só agora consigo entender...


pirenco



terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

DESPERTA, DOR


Acordei com o barulho do relógio, abri os olhos e a primeira pancada... 4:55 da madrugada. Fui ao banheiro; tomei um banho pelada, muito rápido; água e luz tá o olho da cara. No café... não vai leite, não tem em casa. Só tem café preto e forte pra me manter acordada e sair por aí apresentando a minha carta de entrada, currículo. Tenho poucas copias, tivesse muita, teria de ir a pé. O dinheiro tá contado, recontado, contadinho, pro ônibus e prum salgado de 50 centavos. Sai de casa, dia 13 de fevereiro de 2012, pisei na calçada esburacada, e como guerreira zumbi, subi até o ponto, “esperar o ônibus não é tarefa fácil,” pensei. Ponto lotado, empurra-empurra, sobe, não sobe; dentro mais lotado do que lá fora; “bom dia, motorista.” Ele não responde. Na catraca, a segunda pancada... ARMÊNIA 4,80. aumentaram a passagem. PORRA, ASSIM NÃO DÁ. Cobrador me diz uma coisa... POR QUE TUDO AUMENTA SEM NOS PERGUNTAREM SE AO MENOS QUEREMOS ? Eu não quero esse aumento. Se aceito, fico sem alimento. Essa condução tá mais cara do que o feijão. Cobrador... VAMOS DESPERTAR A NOSSA DOR !!! Preste atenção na jogada... o que você dá de lucro ao patrão, NUM SÓ DIA, paga o teu pão de todo o mês. E além do mais, o patrão não pega ônibus caro e lotado, ele anda de carro blindado com ar condicionado. Assim não dá, vamos despertar, dizer não ao aumento, não ao patrão. Vamos juntos... carona, companheiro?!!!


pirenco

segunda-feira, 6 de fevereiro de 2012

o meu destino não é o guia quatro rodas que decide/ como se fosse um pacote turístico/ parcelado em 12 vezes no cartão/ com a primeira só pra depois do carnaval/ Embora com café da manhã e almoço incluso...

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

UM PASSEIO


Paga pelo serviço e não tem nenhum parentesco com a jovem que empurra a cadeira de rodas. O passeio de meia hora, três vezes por semana, custa ao velho meio salário mínimo por mês. Calado e frágil, nos últimos anos seu único prazer é esquentar o corpo ao sol, ver o tráfego, ouvir o barulho turbulento da rua. Gosta de fazer sempre o mesmo trajeto, ela já sabe. Os primeiros minutos passam rápidos descendo do sexto andar, superando com ajuda do porteiro as escadas da entrada do edifício, cruzando cautelosamente a faixa de pedestres, desviando aqui e ali de alguma bosta de cachorro, rodando pela calçada de cimento até o jardim onde estão as árvores. Superado o percurso, estaciona com cuidado a cadeira de rodas ao lado do banco em que senta. Assim estarão os dois a compartilhar os próximos minutos do passeio: ele, instalado e taciturno, mirando os brotos das rosas; ela, apressada, o relógio.


por: Fausto Amadigi