terça-feira, 19 de abril de 2011

lembrança

O que ainda não me foi tirado sustento com as palavras; trato das lembranças que carrego na mente. São muitas as recordações que me levam ao brilho nos olhos... foram bons e mágicos os meus jovens momentos. Lembro-me, em especial, dos grandes muros, enormes, gigantescos, infinitamente muros, muros em que eu subia para, mais próximo dos fios de eletricidade, lançar pedra amarrada a linha em busca da pipa presa ao fio; ou então... em dia de taco, pegar, aos pulos ofegantes, a bolinha perdida no quintal protegido pelo muro grafado por números de vereadores a cal; ou então... nas tardes de férias escolares, subir na imensidão de concreto e ficar observando as meninas desfilarem pela calçada suas belezas infantis; olhá-las do alto, das nuvens... esse era o mais significativo sinal de virilidade que eu-homem poderia demonstrar para mim e para os outros impedidos de olhar do alto por motivo de peso; não importava se as garotas me vissem, o fato é que eu-menino me sentia homem. Hoje, porém, passeio pelo bairro e vejo que os muros, as antigas muralhas de concreto culpadas por minhas cicatrizes... encolheram; pequenos, pequeninos. Passo por eles na companhia da lembrança, e, os meus olhos lacrimejando me vêem outra vez criança, subindo nos muros.



pirenco

2 comentários:

Unknown disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Danilo Cruz disse...

Passado que corre nas veias. e alimenta o presente, muito bem
alimentado.

Tanto é que flui um escrito desse.
"a bolinha perdida no quintal protegido pelo muro grafado por números de vereadores a cal" não é
passado, é presente.

Muito bom ter seus escritos por outra vez, pireco.

Até!