terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Hoje não existirá poesia

E se hoje chover? É verão. As manhãs são quentes e as tardes molhadas. Hoje chove; e a felicidade estará estampada nas faces dos que se banham em piscinas luxuosas nutridas pelo desvio do dinheiro público. O descaso dos políticos transformou a chuva em vilã dos pobres. Nós não podemos sentir a acidez das águas do céu escorrer por nossas faces; não podemos correr sem direção pelas ruas em busca da gota perfeita; não podemos sentir o encanto de botar uma pedra de granizo na boca para que não surjam mais dores de garganta. Isso tudo nos foi roubado. Os usurpadores nos tiraram a poesia da chuva. Nesta tarde não existirá poesia. Os ratos passearão felizes como se o mundo somente a eles pertencesse; os móveis usados serão guiados pela correnteza dos córregos; e as notícias dirão, sob a vontade dos que sorriem na beira das piscinas, que nós somos os culpados. Está aí o porquê de não existir poesia na chuva desta tarde.




pirenco

4 comentários:

Danilo Cruz disse...

O fato de 'não existir poesia na chuva desta tarde' é o fim. Me parecendo que ela ficou muito impossível de ser feita. De ser concretizada. Aqui, agora, só o que restou foi a lama. A lama do social. A escória reinando!

coletivo 308 disse...

Olá Danilo!
Obrigado pela visita e pelo link do nosso blogger(coletivo 308)!
Espero que em 2011 possamos fazer muitos projetos em parceria! O que acha?
Adorei a proposta do blogger de vocês(aliás, ele também é massa!).

Abração

Alexandre,
Coletivo 308

Indira Bastos disse...

A realidade bate a porta, tentando calar o poeta.
Mas ele reconhece o seu dever e vai de encontro a guerra.

Anônimo disse...

A força da chuva dessa tarde está espelhada na força desta poesia.

Poesia chuvosa que não molha, mas arrepia com tanta verdade.

presos na correnteza, com a boca seca, sem o tal granizo, nem mesmo os ratos serão salvos.

#amei.