terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

acesso à construção

Não quero sensibilizar ninguém, pois não uso as mesmas manhas dos que me cercam, dos que bombardeando diariamente o meu cérebro com informações sensacionalistas em busca da audiência. Apenas escrevo por não ter nada para mastigar; gosto de escrever e sinto alívio ao ver às palavras expressas numa folha de papel. É esse alívio que me alimenta, tapeia o estomago e me faz sobreviver.

Desejo que ninguém leia este relato, por isso escrevê-lo-ei somente para minha apreciação. O assunto é particular; não cabe a outros nele interferir nem que seja por apreço. Se estas palavras caírem em mãos que não as minhas ordeno que as jogue no lixo; este material é reciclável e será útil se para esse fim for destinado.

Minha família... (se continua lendo é porque não compreendeu que o assunto é pessoal. Pare!) como havia dito, minha família é composta por seis pessoas. Meu pai é quem comanda o barraco, desde as despesas alimentares ao esforço para que eu e meus quatro irmãos estudemos. No barraco não rola treta com as contas de água e luz, a gente é ligero, rola gato. A única treta que rola é pra gente estuda, o véio pega no pé grandão, qué sabe o que rolo naquela escola de merda. Não. Tô sendo injusto. O rango de lá é firmeza, mas só isso.

Areia, pedra e cimento. O véio sai sempre cedinho pra ir pro trampo, sem nunca se esquecer de desejar um bom dia e bons estudos pra gente. Meu pai pega o busão, caro e sempre lotado, que pra chega na construção - onde deixa a sua força e o seu suor - gasta em média noventa minutos. Não sou bom de cálculos, mas vou tentar somar... noventa pra ir + noventa pra voltar = três horas. Três horas + nove horas (gastos no trabalho) = 12 horas. Este é o tempo destinado ao trabalho, à construção. Mas não nos deixemos abater pelos números.

Bonita como na maquete, a construção está quase pronta; será um grande e bonito campus universitário. Meu pai chega todos os dias comentando sobre a beleza do serviço. “Tá ficando lindo. Lá é grande. Um dia você vai estudar lá.”
Depois dele ter vomitado todas as empolgação, pego um copo d’agua e fico pensando nas ultimas palavras do meu pai. ‘’um dia você vai estudar lá.” Como vou estudar lá se não rola estudar aqui? Cheguei ao ultimo ano do ensino médio e só o que vejo é o caminho perverso que me joga dentro da maquina de moer pobre. O Estado nos dá a ilusão, vivemos com ela, precisamos dela, sem ela não rola a construção.

Não acredito que alguém tenha chegado ao fim deste relato, mas se alguém o fez, passando por cima da minha ordem, não se preocupe, não se sensibilize, enfim, nada, não faça nada, seja você. Apenas festeje o seu acesso à construção do meu pai.



pirenco

2 comentários:

Danilo Cruz disse...

Linguagem nova pra resenhar um fato antigo. Muito boa a tentativa desse locutor de tentar fazer que eu não termine a leitura. Mas, terminei!

Anônimo disse...

Ai Brunão da hora o texto .... mas não esqueça chegando ai vou lhe dar uma rasteira .... a do batizado ainda ...hahahah

Mairrazzo