quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Silêncio

Não consigo mais suportar o silêncio. Nele tudo me atormenta, nem o tic-tac do relógio posso ouvir porque as pilhas que davam vida ao som pararam. Sem gritos nas ruas, sem o barulho dos carros, sem o avião no céu, não há nada. Não existe som, não há música nesta noite. Não consigo falar, pois não há ninguém com vida neste lugar; se ao menos houvesse uma flor ao meu lado sussurraria para seu pólen palavras soltas, sem importância. Talvez diria como foi o meu dia. Não! Por sorte não tenho uma flor, ela morreria ao ouvir o meu relato. Tenho próximo a mim um espelho, triste objeto que só reflete uma pessoa; se ele pensasse daria uma nova definição ao meu ser. Estou com sono. Quando era criança ouvi uma história de que os sonhos são mágicos; neles você pode fazer o que quiser; tomara que o velho contador de histórias falara a verdade, pois, se assim for no meu sonho vou escutar os gritos de um suicídio.



pirenco

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

os olhos na viela

Qual será a sensação de matar alguém? Sim! Desejo conhecê-la, pois me atormenta o forte desejo da matar um ser. Todas as noites, deparo-me, numa viela, com os olhos mais inquietantes que já vi. As duas esferas no rosto não param de me olhar, não existe um só instante que eu não esteja sendo observado. No meu percurso noturno, caminho lentamente e ele me olha; sempre na mesma viela. Pelas manhãs me pergunto se quando o sol se for ele ainda estará lá. Quero matá-lo de qualquer forma. Faço todo o caminho imaginando como seria se eu tivesse um revolver, não me importaria com o calibre nem tão pouco com o barulho. Pensando bem, seria interessante se houvesse muito barulho no disparo, um tiro que incomodasse os mais velhos ouvidos que habitam as ruas que fazem ligação com a maldita viela. É pena não ter um revolver. Não conheço ninguém que me emprestaria uma arma para esse tipo de serviço. Na rua onde moro há uma venda, uma casa do norte; lá eu sei que vende estilingue. Não sei se um instrumento pra criança matar passarinho resolveria o meu problema, porém toda noite imagino... se eu tivesse um estilingue... o brinquedo inimigo dos pássaros... faria o teste escolhendo a dedos a pedra perfeita. Toda noite, no momento em que um dos meus pés se adianta e entra na maldita viela, ganho a companhia das esferas observadoras. Uma noite dessas pensei nos seres que não conseguem piscar, logo os peixes vieram à cabeça; busquei na memória outro com a mesma habilidade, não encontrei. Não paro de pensar em fechar os olhos que me vigiam. Pelas manhãs busco uma sensação de alivio, não encontro. Não terei sossego enquanto ele estiver vivo. Enquanto ele vive eu morro, estou morrendo todas as noites.




pirenco

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

lamento na gaiola







Os pássaros não cantam; eles se queixam da paisagem.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

Por um gosto.

Quando não gosto de minha poesia, faço outra poesia./ Que provavelmente não será publicada./ Nem lida./ Quando leio minha poesia em voz alta./ É minha faca que te corta./ É o que gosto e o que não gosto./ Pois minha poesia, ela é agora, a tua poesia./