quarta-feira, 26 de agosto de 2009

os olhos na viela

Qual será a sensação de matar alguém? Sim! Desejo conhecê-la, pois me atormenta o forte desejo da matar um ser. Todas as noites, deparo-me, numa viela, com os olhos mais inquietantes que já vi. As duas esferas no rosto não param de me olhar, não existe um só instante que eu não esteja sendo observado. No meu percurso noturno, caminho lentamente e ele me olha; sempre na mesma viela. Pelas manhãs me pergunto se quando o sol se for ele ainda estará lá. Quero matá-lo de qualquer forma. Faço todo o caminho imaginando como seria se eu tivesse um revolver, não me importaria com o calibre nem tão pouco com o barulho. Pensando bem, seria interessante se houvesse muito barulho no disparo, um tiro que incomodasse os mais velhos ouvidos que habitam as ruas que fazem ligação com a maldita viela. É pena não ter um revolver. Não conheço ninguém que me emprestaria uma arma para esse tipo de serviço. Na rua onde moro há uma venda, uma casa do norte; lá eu sei que vende estilingue. Não sei se um instrumento pra criança matar passarinho resolveria o meu problema, porém toda noite imagino... se eu tivesse um estilingue... o brinquedo inimigo dos pássaros... faria o teste escolhendo a dedos a pedra perfeita. Toda noite, no momento em que um dos meus pés se adianta e entra na maldita viela, ganho a companhia das esferas observadoras. Uma noite dessas pensei nos seres que não conseguem piscar, logo os peixes vieram à cabeça; busquei na memória outro com a mesma habilidade, não encontrei. Não paro de pensar em fechar os olhos que me vigiam. Pelas manhãs busco uma sensação de alivio, não encontro. Não terei sossego enquanto ele estiver vivo. Enquanto ele vive eu morro, estou morrendo todas as noites.




pirenco

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