quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Lucas da Feira H.Q. -Entrevista com Marcos Franco.

Voltando aos trabalhos, tenho o prazer de disponibilizar para tod@s uma entrevista concedida por Marcos Franco. Marcos é um dos produtores do H.Q. 'Lucas -Da vila de Sant'anna da Feira'. Lucas da Feira foi um escravo que se rebelou contra tal situação, andando nos arredores de Feira de Santana ainda nos idos do século XIX saqueando e cometendo diversos 'crimes' afim de manter-se vivo.
Com mais de 10 anos na cena dos quadrinhos nacionais, ele trouxe uma pesquisa histórica do popular Lucas da Feira para dentro dos quadrinhos. A empreitada vai somar pra construção de uma memória ativa do imaginário social, e contribuir diretamente para um viés mais aberto de discussões à respeito da história do protagonista- o próprio Lucas.






Pura: Primeiramente gostaria de agradecer em nome do blog, e dizer que esta casa é sua. Aqui você pode dizer o que quiser. Pra começar, como foi que surgiu à idéia de adaptar para os quadrinhos a história de Lucas da Feira?



Marcos Franco: Olha só, a idéia da criação do álbum surgiu há alguns anos, porém desde a infância possuía especial apreço pela figura lendária do Lucas da Feira. Sempre tive uma relação bastante próxima à cultura popular e as coisas ligadas ao campo. Costumava ouvir dos mais velhos “causos” e histórias sobre todos esses mitos do sertão, sobretudo a seu respeito. Foram essas lembranças que me instigaram a pesquisar e transportar ao universo dos quadrinhos sua polemica história.



Pura: Fale um pouco sobre o processo de pesquisa histórica para a concepção do álbum.

Marcos Franco: O processo de pesquisa se deu em dois períodos distintos. O primeiro deles ocorreu no finalzinho da década de noventa, na oportunidade entrevistei o pesquisador Joaquim Gouveia Gama e pesquisei o romance biográfico “Lucas, o demônio negro”, de Sabino de Campos. Já na segunda etapa, toda ela realizada em parceria com Marcelo Lima (o outro roteirista da HQ) teve inicio em 2008 e durou pouco mais de um ano. Durante esse período, consultamos cordéis, a dissertação de mestrado da professora Zélia de Jesus Lima e realizamos uma nova série de entrevistas com pesquisadores, historiadores e anciões da zona rural de Feira de Santana.



Pura: Há certa controvérsia envolvendo a figura de Lucas da Feira, alguns o têm como uma espécie de Robin Hood, que roubava dos ricos para dar aos pobres, já outros o taxam como um criminoso desumano, qual dessas vertentes vocês seguiram?

Marcos Franco: Esta é uma pergunta bastante pertinente, todavia não foi nossa intenção fazer esse julgo moral no quadrinho. Na trama deixamos isso em aberto para que o próprio leitor possa fazer a sua interpretação. De qualquer modo, sendo ele considerado herói ou bandido, a sua influência na história e cultura feirense é algo inquestionável, como um forte valorizador, sobretudo, da cultura afro-brasileira.



Pura: Eu notei que vocês usam nos diálogos uma linguagem bastante coloquial, repleta de expressões regionais. Qual a preocupação em relação a isso?

Marcos Franco: Os diálogos coloquiais servem para criar um maior realismo à trama, ajudando na ambientação da região. Essa estratégia da uma maior densidade ao roteiro e, contribui para gerar uma maior empatia no publico leitor local.



Pura: Você acredita que uma obra em quadrinhos que trata de um personagem que está no imaginário do povo possa chegar às escolas e ter a aceitação dos diversos tipos de públicos?

Marcos Franco: Acredito que sim. Durante muito tempo os quadrinhos foram relegados a um papel secundário como forma de leitura, entretanto hoje vem alcançando um status diferenciado. Esse tipo de narrativa favorece ao desenvolvimento mais harmonioso entre as tarefas de analisar racionalmente e o trabalho de ler o mundo com sensibilidade. Além disso, os quadrinhos são de fácil acesso e possuem um grande prestigio no meio infantil, pois a junção de imagem e texto torna o ato de ler mais suave, dinâmico e lúdico.



Pura: Suas considerações finais, contato para adquirir o H.Q. e seu olá para os leitores do purasubstancia.blogspot.com.

Marcos Franco: Para finalizar, gostaria de deixar aqui o meu forte abraço a todos os leitores do Pura Sustância e agradecer a você Danilo pelo espaço e oportunidade de contar um pouco mais sobre o álbum em quadrinhos “Lucas da Vila de Sant’Anna da Feira” . A propósito, a publicação já está disponível para a venda na Livraria Atlântica do Boulevard Shopping de Feira de Santana e Banca do Aeroporto, Rodoviária e Livraria RV Quadrinhos de Salvador. Ah! Estamos também atendendo a pedidos de outros estados através e-mail: lucasdafeirhq@gmail.com

Texto e entrevista por Danilo Cruz, trabalho realizado entre 26/10 à 17/11 de 2010.

3 comentários:

bru pirenco disse...

véio, qi massa. muito boa a iniciativa de trazer aos leitores do pura o trampo desse camarada. cultura é isso. a nossa história contada pelos nossos. parabéns.

Indira Bastos disse...

Parabéns duplo!
É bom ver pessoas interessadas em expandir a cultura local e torná-la acessível à todos.
Belo trabalho, meninos.

Danilo Cruz disse...

Danilo,

Não consegui postar esse comentário lá no seu blog, pode ajudar?

É fundamental salientar a importância, para a cena quadrinística nacional, o trabalho de Lucas da Feira de Sant'Anna. Os trabalhos de pesquisa de época, tanto no vestuário, comportamento social e histórico, dão força ao roteiro e ao desenho. Este nos remete ao traço forte de dois ícones dos quadrinhos nacionais, Mozart Couto e Rodval Matias.
Parabéns aos autores dessa obra.

Grato,

José Valcir