Com mais de 10 anos na cena dos quadrinhos nacionais, ele trouxe uma pesquisa histórica do popular Lucas da Feira para dentro dos quadrinhos. A empreitada vai somar pra construção de uma memória ativa do imaginário social, e contribuir diretamente para um viés mais aberto de discussões à respeito da história do protagonista- o próprio Lucas.


Pura: Primeiramente gostaria de agradecer em nome do blog, e dizer que esta casa é sua. Aqui você pode dizer o que quiser. Pra começar, como foi que surgiu à idéia de adaptar para os quadrinhos a história de Lucas da Feira?
Marcos Franco: Olha só, a idéia da criação do álbum surgiu há alguns anos, porém desde a infância possuía especial apreço pela figura lendária do Lucas da Feira. Sempre tive uma relação bastante próxima à cultura popular e as coisas ligadas ao campo. Costumava ouvir dos mais velhos “causos” e histórias sobre todos esses mitos do sertão, sobretudo a seu respeito. Foram essas lembranças que me instigaram a pesquisar e transportar ao universo dos quadrinhos sua polemica história.
Pura: Fale um pouco sobre o processo de pesquisa histórica para a concepção do álbum.
Marcos Franco: O processo de pesquisa se deu em dois períodos distintos. O primeiro deles ocorreu no finalzinho da década de noventa, na oportunidade entrevistei o pesquisador Joaquim Gouveia Gama e pesquisei o romance biográfico “Lucas, o demônio negro”, de Sabino de Campos. Já na segunda etapa, toda ela realizada em parceria com Marcelo Lima (o outro roteirista da HQ) teve inicio em 2008 e durou pouco mais de um ano. Durante esse período, consultamos cordéis, a dissertação de mestrado da professora Zélia de Jesus Lima e realizamos uma nova série de entrevistas com pesquisadores, historiadores e anciões da zona rural de Feira de Santana.
Pura: Há certa controvérsia envolvendo a figura de Lucas da Feira, alguns o têm como uma espécie de Robin Hood, que roubava dos ricos para dar aos pobres, já outros o taxam como um criminoso desumano, qual dessas vertentes vocês seguiram?
Marcos Franco: Esta é uma pergunta bastante pertinente, todavia não foi nossa intenção fazer esse julgo moral no quadrinho. Na trama deixamos isso em aberto para que o próprio leitor possa fazer a sua interpretação. De qualquer modo, sendo ele considerado herói ou bandido, a sua influência na história e cultura feirense é algo inquestionável, como um forte valorizador, sobretudo, da cultura afro-brasileira.
Pura: Eu notei que vocês usam nos diálogos uma linguagem bastante coloquial, repleta de expressões regionais. Qual a preocupação em relação a isso?
Marcos Franco: Os diálogos coloquiais servem para criar um maior realismo à trama, ajudando na ambientação da região. Essa estratégia da uma maior densidade ao roteiro e, contribui para gerar uma maior empatia no publico leitor local.
Pura: Você acredita que uma obra em quadrinhos que trata de um personagem que está no imaginário do povo possa chegar às escolas e ter a aceitação dos diversos tipos de públicos?
Marcos Franco: Acredito que sim. Durante muito tempo os quadrinhos foram relegados a um papel secundário como forma de leitura, entretanto hoje vem alcançando um status diferenciado. Esse tipo de narrativa favorece ao desenvolvimento mais harmonioso entre as tarefas de analisar racionalmente e o trabalho de ler o mundo com sensibilidade. Além disso, os quadrinhos são de fácil acesso e possuem um grande prestigio no meio infantil, pois a junção de imagem e texto torna o ato de ler mais suave, dinâmico e lúdico.
Pura: Suas considerações finais, contato para adquirir o H.Q. e seu olá para os leitores do purasubstancia.blogspot.com.
Marcos Franco: Para finalizar, gostaria de deixar aqui o meu forte abraço a todos os leitores do Pura Sustância e agradecer a você Danilo pelo espaço e oportunidade de contar um pouco mais sobre o álbum em quadrinhos “Lucas da Vila de Sant’Anna da Feira” . A propósito, a publicação já está disponível para a venda na Livraria Atlântica do Boulevard Shopping de Feira de Santana e Banca do Aeroporto, Rodoviária e Livraria RV Quadrinhos de Salvador. Ah! Estamos também atendendo a pedidos de outros estados através e-mail: lucasdafeirhq@gmail.com
Texto e entrevista por Danilo Cruz, trabalho realizado entre 26/10 à 17/11 de 2010.
3 comentários:
véio, qi massa. muito boa a iniciativa de trazer aos leitores do pura o trampo desse camarada. cultura é isso. a nossa história contada pelos nossos. parabéns.
Parabéns duplo!
É bom ver pessoas interessadas em expandir a cultura local e torná-la acessível à todos.
Belo trabalho, meninos.
Danilo,
Não consegui postar esse comentário lá no seu blog, pode ajudar?
É fundamental salientar a importância, para a cena quadrinística nacional, o trabalho de Lucas da Feira de Sant'Anna. Os trabalhos de pesquisa de época, tanto no vestuário, comportamento social e histórico, dão força ao roteiro e ao desenho. Este nos remete ao traço forte de dois ícones dos quadrinhos nacionais, Mozart Couto e Rodval Matias.
Parabéns aos autores dessa obra.
Grato,
José Valcir
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