segunda-feira, 12 de julho de 2010

Penso no escuro

E se eu morresse agora, antes mesmo de encerrar estas palavras? A posição me é favorável; os pés apontam para o nada que só existe no céu; as mãos ora em laços pelos dedos na altura do peito ora dando lucidez a esse relato estão gélidas por conta do calor vindo de fora; quanto aos olhos, esses não vêem nada que não seja uni-cor. Vivo como aquele que tem um telescópio e despreza as estrelas. O cheiro de merda que minha narina insiste em preservar outrora me incomodava; os aromas se uniram! Minha putrefação humana está em comunhão com o excremento no banheiro. Se eu morresse agora, a indiferença dos vermes animaria meu corpo de prazeres. Não sou nem serei o que desejei. Somente a morte me acolherá com seu manto de alívio.



pirenco

Um comentário:

Danilo Cruz disse...

A morte é de díficil compreensão, mas essas palavras "Vivo como aquele que tem um telescópio e despreza as estrelas" não são de difícil compreensão. É biográfico, poético e vivo demais!