quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Ensaio para uma nova cena.


Preciso escrever.
Depois de uma hora e meia de conversa interminável, interrompida pela bateria do celular que não entende o quanto nos precisamos.
            Sim, eu preciso dele e de todas suas conversas, seu bom humor, suas ideias malucas. Não como um amigo, mas como um suco que mata a minha sede e minha necessidade de ingerir açúcar, energia.
            Preciso também de um chá ou um café, que pergunta como estou hoje, e amanhã, e como eu estava ontem. Que me quer por perto diariamente, que me descobre e me encanta embalado por meu senso estético que dizem ser poesia.
            E preciso igualmente de uma bebida alcoólica, que eu possa descobrir todos os dias os efeitos que me causa. Um novo tom de voz, toque, olhar, sorriso, intimidade. Um segredo. Outro jeito de enxergar a vida, a calma, a chance de ouvir.
            Que cruel esse momento em que sedenta, arranco meus fios de cabelo um a um. Sentada no banco da praça, aguardando que a chuva venha para me hidratar, pretendo perder-me numa dessas bebidas, viciar-me na intenção de não mais sentir sede e curar as feridas no meu coro cabeludo.
            Queria ter todas essas sensações num mesmo copo. E neste momento arrependo-me, ainda me orgulhando por saber apreciar. Como se todos os meus órgãos, um a um, enfileirados, quisessem sair pela boca. Primeiro o coração. É o que estou sentindo agora.
            Uma confusão que aos olhos dos répteis assemelha-se a uma ilusão. Eles sobrevivem mais tempo sem beber água, eu não.

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