terça-feira, 19 de abril de 2011

Chorar

Hoje é o dia em que eu desejo chorar. No banheiro, sozinho, em silencio, no escuro. Porém, da porta entre aberta a luz da tarde se derrama pelos azulejos brancos ou beges. Hoje eu quero chorar sozinho, sozinho; sozinho não consigo ficar. “oi, tudo bem?” Talvez esteja tudo vazio por dentro e por fora... “tudo” ninguém nota ou fingem não notar que o vazio toma conta do universo meu-humano. Fechado em mim, na primeira e na última pessoa, olhares fixos que não despertam com os movimentos, aviões, pássaros perdidos; verdes matos com antenas ao alto matam homens e eu. Eu só quero chorar, sal que chegue ao paladar; só. Só chorar.



pirenco

lembrança

O que ainda não me foi tirado sustento com as palavras; trato das lembranças que carrego na mente. São muitas as recordações que me levam ao brilho nos olhos... foram bons e mágicos os meus jovens momentos. Lembro-me, em especial, dos grandes muros, enormes, gigantescos, infinitamente muros, muros em que eu subia para, mais próximo dos fios de eletricidade, lançar pedra amarrada a linha em busca da pipa presa ao fio; ou então... em dia de taco, pegar, aos pulos ofegantes, a bolinha perdida no quintal protegido pelo muro grafado por números de vereadores a cal; ou então... nas tardes de férias escolares, subir na imensidão de concreto e ficar observando as meninas desfilarem pela calçada suas belezas infantis; olhá-las do alto, das nuvens... esse era o mais significativo sinal de virilidade que eu-homem poderia demonstrar para mim e para os outros impedidos de olhar do alto por motivo de peso; não importava se as garotas me vissem, o fato é que eu-menino me sentia homem. Hoje, porém, passeio pelo bairro e vejo que os muros, as antigas muralhas de concreto culpadas por minhas cicatrizes... encolheram; pequenos, pequeninos. Passo por eles na companhia da lembrança, e, os meus olhos lacrimejando me vêem outra vez criança, subindo nos muros.



pirenco

segunda-feira, 18 de abril de 2011

O abatedouro de pombos - V

-E o carro capota com jovens que brincavam com as putas da cidade vizinha-
Que tragédia, grita o homem!
-Todos morrem, menos as putas da cidade vizinha-
Que tragédia, grita a mulher!
-Que noite quente!-
Grita a puta da cidade vizinha.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

A mascara maquiada:
alegria nos dentes,
raiva vermelha nos olhos,
veias.
Mergulho na insanidade do momento
Afogado... não respira

Barulhos repetidos, aplausos,
o carteiro que não é poeta,
Nas mãos suspiro do mês
derrama-se sobre a mascara,
''a conta''.



pirenco

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Entre ratos e poetas.

Quem é o poeta/ que esquece a porta aberta/ e sempre sempre desconversa sobre a causa da primeira guerra?/ Esse poeta esconde fatos/ não passa de um rato preso num buraco/ quem é o poeta que morreu na segunda guerra dizendo bobagens sobre a paz na terra?/ és tu , infame?/ és tu, o poeta da primeira e  da segunda guerra?/ és tu, o rato?/ és tu poeta?

domingo, 3 de abril de 2011

Como Macabéa
sangue
pão
salsicha
Do norte a revelação desce por onde não há mais som
atinge a ogiva:
PUN!



pirenco
Gesso. “Eu” preciso de gesso. Gesso.
Pro dedo
Pro teto
Pro pêlo
torto; incompleto... CONTRADITÓRIO.
Eu
Oh!
Gesso.



pirenco