sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

nova definição

É necessário pensar em como o ser humano agi; às vezes penso que se deveria mudar a palavra: humano. Sei lá, talvez a nossa definição, de como somos, de como agimos, necessitasse de uma nova expressão, com maior reflexão, mais apurada. Escrevo isso pelo fato da morte do prisioneiro político Zapata ter ganhado repercussão global; este, após meses em greve de fome, faleceu. Sua privação alimentar tinha como reivindicação os supostos maus tratos em uma prisão cubana.

Seria uma morte naturalizada, assim como as dos meninos assassinados diariamente nas ruas das periferias no Brasil, se não fossem os olhares atentos dos urubus oportunistas. Os ‘’seres humanos’’, aproveitadores, aguçados pelo cheiro de carniça, pouco se importam com quem morre; nesse sistema vigente não é comum se importar como o outro, amenos que o outro seja usado de alicerce para a ideologia de privilégios individuais sob o detrimento dos direitos universais. Se uma pessoa morre por tortura policial na periferia brasileira, não há uma linha nos jornais; se morre em cuba – como foi o caso Zapata, o mundo capitalista grita por direitos à liberdade. Não comparo aqui as mortes, e sim os interesses políticos por detrás delas.

Como já dito, nestes tempos de barbárie, onde o desrespeito aos direitos é regra, deve-se pensar numa nova definição para isso que hoje chamamos humano.


pirenco

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Suas digitais.

Sabe, as portas? Lembra das portas? As portas abertas? Elas continuam do jeito que as encontramos. Abertas, escancaradas para nossa loucura eterna. Sabe, as chaves? As chaves que trancam as portas da nossa loucura eterna? Eu as perdi. Sabe, a campainha? A que se toca para abrir com as chaves que perdi as portas da nossa loucura eterna? Ainda aguarda suas digitais.

Por: Danilo Cruz.

domingo, 14 de fevereiro de 2010

Zé e Maria e a Estabilidade.

Zé quer a Estabilidade/ Zé tem dois filhos e Maria/ Maria deu cria e quer Zé/ Que quer a Estabilidade./ A Estabilidade nem olha pra Zé/ Pois Zé pai/ E é casado com Maria/ Toda noite Maria ver Zé sonhar/ Com a Estabilidade/ Não com Maria./ Zé chegou tarde outro dia./ Isso causou fúria em Maria/ Que jurou matar Zé se ele sonhasse com a Estabilidade outro dia.



Por: Danilo Cruz, 01/2010.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

contradição do sistema capitalista

video que mostra o aperreio e a luta nas periferias da cidade de sp.

http://passapalavra.info/?p=18605

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

acesso à construção

Não quero sensibilizar ninguém, pois não uso as mesmas manhas dos que me cercam, dos que bombardeando diariamente o meu cérebro com informações sensacionalistas em busca da audiência. Apenas escrevo por não ter nada para mastigar; gosto de escrever e sinto alívio ao ver às palavras expressas numa folha de papel. É esse alívio que me alimenta, tapeia o estomago e me faz sobreviver.

Desejo que ninguém leia este relato, por isso escrevê-lo-ei somente para minha apreciação. O assunto é particular; não cabe a outros nele interferir nem que seja por apreço. Se estas palavras caírem em mãos que não as minhas ordeno que as jogue no lixo; este material é reciclável e será útil se para esse fim for destinado.

Minha família... (se continua lendo é porque não compreendeu que o assunto é pessoal. Pare!) como havia dito, minha família é composta por seis pessoas. Meu pai é quem comanda o barraco, desde as despesas alimentares ao esforço para que eu e meus quatro irmãos estudemos. No barraco não rola treta com as contas de água e luz, a gente é ligero, rola gato. A única treta que rola é pra gente estuda, o véio pega no pé grandão, qué sabe o que rolo naquela escola de merda. Não. Tô sendo injusto. O rango de lá é firmeza, mas só isso.

Areia, pedra e cimento. O véio sai sempre cedinho pra ir pro trampo, sem nunca se esquecer de desejar um bom dia e bons estudos pra gente. Meu pai pega o busão, caro e sempre lotado, que pra chega na construção - onde deixa a sua força e o seu suor - gasta em média noventa minutos. Não sou bom de cálculos, mas vou tentar somar... noventa pra ir + noventa pra voltar = três horas. Três horas + nove horas (gastos no trabalho) = 12 horas. Este é o tempo destinado ao trabalho, à construção. Mas não nos deixemos abater pelos números.

Bonita como na maquete, a construção está quase pronta; será um grande e bonito campus universitário. Meu pai chega todos os dias comentando sobre a beleza do serviço. “Tá ficando lindo. Lá é grande. Um dia você vai estudar lá.”
Depois dele ter vomitado todas as empolgação, pego um copo d’agua e fico pensando nas ultimas palavras do meu pai. ‘’um dia você vai estudar lá.” Como vou estudar lá se não rola estudar aqui? Cheguei ao ultimo ano do ensino médio e só o que vejo é o caminho perverso que me joga dentro da maquina de moer pobre. O Estado nos dá a ilusão, vivemos com ela, precisamos dela, sem ela não rola a construção.

Não acredito que alguém tenha chegado ao fim deste relato, mas se alguém o fez, passando por cima da minha ordem, não se preocupe, não se sensibilize, enfim, nada, não faça nada, seja você. Apenas festeje o seu acesso à construção do meu pai.



pirenco