terça-feira, 27 de outubro de 2009

Paralisia do sono


Momentos perturbadores que nos tiram da realidade, nos carragam para outra dimenção, nos causando medo da morte, medo de nunca mais sair daquela bolha escura, onde não se respira, onde não se pode mover um só dedo. Pesadelo de onde mesmo quando me dou conta que estou, não consigo sair, despertar, clamar por ajuda.
Depois de muito tempo de luta, consegui dominar o tal pesadelo, olhei para mim mesmo, estava fora do ar, interagindo com outros espiritos, pessoas ou sei la eu oque. É uma dimenção profunda, onde nada parece ser sólido, apenas vultos. Um barulho ensurdecedor circunda o local, é o silencio. Não a luz, todos parecem gritar, fantasmas de pessoas próximas. O medo é inevitavel, mesmo quando nos conformamos por alguns milisegundos com aquela realidade. Derrepente descubro uma porta de escape, acordar, mas mesmo parecendo ser a saida, posso lhes afirmar, é a pior parte! É como estar debruçado para o lado de la da ponte e tomar a iniciativa para pular, é como puxar o gatilho,é como se toda a perturbação estivesse ali, entrando como agulhas para dentro do meu corpo, que é de onde saiu. Atravesso camadas e camadas de realidades, até chegar a lucidez total. Acordei, e mesmo podendo sentir o toque da pele, abrir os olhos, pensar que tudo esta bem, ainda não estou tranquilo, tetei analizar tudo que se passou, e com a camiseta, palma das mãos, cabelos e meu rosto inundados de água, não consigo nem piscar. Sobrevivi.

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Zine Inde 2 em 1.

O Zine Inde lançou recentemente 2 edições em uma só vez.









Para receber em sua casa, é só mandar seu endereço para: zineindeemsp@bol.com.br / danilohccruz@hotmail.com

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Noite feliz

Madrugada fria e chuvosa, o chinelo batido protege o antigo e machucado pé. Pedro. Assim é chamado o nosso herói por entre os amigos da coleta de recicláveis. Ele está com sorte nesta noite; ganhou alguns trocados, durante o dia, das idosas que recebiam a aposentadoria do mês; sua tática era antiga, abordar as senhoras pedindo-lhes moedas pra matar a fome, e em dia de pagamento, na porta dos bancos, é fácil persuadir os bons corações movidos pelo medo.

Conseguiu comer num restaurante popular, comida barata, gostosa, “pena que é só o almoço” pensa Pedro. O seu estomago que não pensa, mas grita; gritou alto e pediu mais às moças que depositam a ração na bandeja rasa. Depois dos olhares que o culpavam, ele foi servido.

“O presente não espera o amanhã”. Pedro gosta de lembrar dos tempos em que era estudante de filosofia, lembra das discussões na faculdade e sempre diz a si frases soltas ora suas ora dos filósofos preferidos. A filosofia, porém, nesta noite, está na falta de ruídos do estomago, comera pro dia e pra noite.

Com sua carroça sempre a lhe fazer companhia e, pros castigos do profeta camarada dos céus, uma capa de chuva amarela, cor de destaque que evita o choque com os carros acelerados controlados pelo álcool; Pedro vai caminhando e ...

olhando sempre atento aos detalhes da rua, os prédios, os faróis e o olhar mais que atento, olhar de sobrevivência, aos restaurantes. “ah... estes merecem minha atenção”; aguardava, aguarda, aguardará os restos que não cabem mais nas barrigas já cheias; por sorte a comida é negada por uns e oferecida em sacos pretos a outros. Sempre antes do jantar, como que num ritual religioso, Pedro se lembra...


Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio,
Catando comida entre os detritos.

Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.

O bicho não era um cão.
Não era um gato.
Não era um rato.

O bicho, meu Deus, era um homem.

Ainda quente, tem de tudo, macarrão, arroz, feijão, pedaços de frutas mordidas e dessa vez, algo raro, um livro.

Mastiga
Engole



pirenco

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Burguês ?!?

Acordou sem deixar a cama, o som da chuva caindo lhe dava vontade de continuar deitado. “Não! Preciso levantar”, pensou. Levantou. 9:32 apontava o relógio; no banheiro, o rotineiro das manhãs, levantar a tampa do vazo, direcionar o pinto e mijar. Com os olhos fechados escuta o barulho da urina bater na água. Lava o rosto e se olha, espantado, se seca. Na cozinha prepara o desjejum, pães e bolachas lhe dão a opção. Ao saborear lentamente os alimentos, recorda o dia passado quando viu um homem, caído no chão, bêbado, à porta dum bar. Não entende como, e por quê, o dono do bar, das pingas e do aparelho de som antigo podia vender tanto álcool a uma pessoa, a ponto da calçada se tornar moradia e a cama quente do homem que ao meio dia dorme, como nunca tivera dormido.
Finda o café, escova os dentes sem esquecer o fio dental. “Agora sim”. Pensa. “estou pronto pra estudar!”. Abre o seu livro preferido e em voz alta lê para si o manifesto comunista.



pirenco

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Olhos furados.

Quando ele chegou aqui no bairro, com aquele sotaque estranho e jeito diferente de andar, não poderiamos imaginar que o rapaz trabalhava com esse tipo de coisa. Todos achavamos, inclusive eu aqui atrás desse balcão que ele era um crítico de arte ou um escritor de renome nacional. Pensava eu que o dito cujo era um membro da academia brasileira de letras. Principalmente pelo jeito de se vestir, muito elegante e sempre, na mão, dois ou três livros. Sem contar quando, quase sem querer, ouvia ele conversar com os ordinários que ficava em frente do meu balcão, sobre poesia e arte. Ele era o único que chegava com aqueles discursos bonitos e refinados, pois eu, de arte só entendia de novela que assistia sempre com minha patroa. E mesmo assim não decorava nome de ator.
Sempre pelo fim da tarde, o homem passava em frente minha venda, mas, naquela sexta ele não passou. Normal, pois poderia estar doente. Ou não iria trabalhar naquele dia, já que tinha ouvido que aquele era o horário de ida ao trabalho do tal. No outro dia, já por volta do meio dia, fiquei sabendo que o mesmo tinha morrido. Sim, morrido. Pior, tinha sido assassinado. Os ordinários que frequentam minha venda disseram que foi uma cliente que o matou. Com duas facadas, uma em cada olho. Eu não entendi muito bem o motivo, mas, os ordinários, fofoqueiros que são, falaram que o sujeito era garoto de programa,prostituto, homem da vida, como queiram, e sua principal moeda de troca eram os livros. Os livros! Disseram que a cliente, ou o cliente, eu não entendi muito bem, pagou a ele com livros de Paulo Coelho, a coleção inteira. E ele achou de reclamar e disse que o acordo não era com livros de Paulo Coelho, mas sim com livros Paulo Freire . Eu só sei que por causa de um desses Paulos o homem perdeu os olhos e viu a vida ir na contramão.

Danilo Cruz para Pura Substância.